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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ensaio sobre a solidão

Vários poetas, músicos, artistas no geral abordam constantemente através do tempo o tema da solidão. Porque será que é algo tão recorrente artísticamente? Fala-se de solidão quase o mesmo tanto que se fala de amor. É que o amor, mesmo que ainda desperte medo nas pessoas ele ainda é vencido pela curiosidade. Todos se entregam, mesmo não sendo conscientes disso. De alguma forma já chegamos a conclusão de que sem o amor não há vida ou ela não vale a pena ou é pouco.

Mas quando temos um amor não correspondido automaticamente nos vemos sozinhos, nos sentimos sozinhos e abandonados, engolidos pela solidão. Como se antes não estivéssemos sozinhos. Como se não estivéssemos sozinhos desde cortaram nosso umbigo num ato rápido de dizer: EI, ESSE É VOCÊ, E SÓ VOCÊ.

Já faz algum tempo que venho pensando na solidão como algo sem ter necessariamente uma conotação negativa, ligada ao sofrimento. Aliás, vejo como uma condiçao humana quase inerente à vida.

Vivemos em um mundo em que toda a organização social - por consequencia, a sentimental - é pautada por valores de posse. Como se termos a nós mesmos fosse pouco. Aí que reside o perigo da solidão proveniente do amor: está voltada para a falta de alguém ou de algo que se vivia com esse alguém: pior, algo que poderia ter sido vivido.

O sentimento de solidão vem porque esperamos sempre algo que seja externo a nós, que venha de fora. E assim esquecemos de algo que parece óbvio, mas que na verdade é dolorido aceitar essa realidade: nós temos a nós. E se precisamos de algo pra viver, esse algo é a gente mesmo.

Eu tenho a mim e ao contrário do que parece isso não é pouco. É muito, as vezes quase insuportáve viver em minha companhia o tempo todo. Mas essa é a minha condição, meu pressuposto de vida. Estar comigo e ser feliz por me ter assim com todas as minhas histórias, minhas verdades, minhas angústias, minhas raivas e incertezas, meus sorrisos.

E aí tem gente que deve estar se perguntando: E Deus? Eu só encontro com Deus quando olho pro céu ou pro mar, mas só sinto Deus quando fecho os olhos e admito uma grandeza muito maior que eu possa conceber e sinto-me parte dela. Me sinto parte? Não estou sozinho, nem que eu queira, nem que todas as pessoas que eu amo estejam muito longe de mim.

Transcender o físico e ver as pessoas surgirem em mim. E deixa-las comigo assim, sem exigências.

Internalizar meu amor e meu medo, pra me bastar. Meu amor pelo outro está em mim, não nele. Portanto, eu que devo cuidar disso, fisicamente sozinha, mas com todos dentro de minha pele, como se no fim das contas só fosse possível conviver com pessoas que respeitem minha solidão por saberem que fazem parte dela.

Namastê.

2 comentários:

  1. Você me oportunizou pensar na solidão de um novo jeito.

    Parabéns pelo texto.

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    1. Gratidão querido, a idéia é essa, alimentar-nos uns aos outros! Beijo grande!

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