A Bienal de Artes e São Paulo é o principal evento brasileiro que reúne grande diversidade de obras de arte contemporânea de artistas atuantes do país e de fora dele. Até hoje foram realizadas 30 edições e, ao longo dos anos de sua existência, são definidos temas, focos e formas de realização de acordo com as demandas e reflexões de determinado tempo.
Considerando que a primeira edição ocorreu em 1951, a Bienal
de São Paulo já sofreu uma série de mudanças e adaptações tanto em sua
curadoria como em sua organização, que permitem um diálogo mais ativo entre
visitante e obra. Hoje, por exemplo, a Bienal trabalha na formação de uma
equipe de jovens estudantes de arte para execução de visitas monitoradas, em
que há um acompanhamento atencioso com os visitantes. Isso gerou um interesse
por parte de escolas (não só escolas e arte, mas escolas públicas e ensino
fundamental e médio) em organizar visitas de seus alunos a Bienal.
O fato de ocorrer dentro do Parque do Ibirapuera acaba também
gerando interesse de diferentes públicos -não só os estudantes ou artistas- em
conhecerem os trabalhos ali apresentados. São Paulo é uma cidade que conta com
uma estatística em que somente 10% da população já visitou um museu. Nesse
caso, é interessante que se escolha um local onde tradicionalmente é uma área
de lazer acessível da cidade para a realização deste evento.
Outro fator importante de ser citado é que a Bienal,
principalmente nos últimos anos de sua realização, tem se preocupado em incluir
formas de arte que não sejam necessariamente as artes plásticas. Vídeos,
projeções e performances tem ganhado espaço dentro do evento. A partir disso,
nos despertamos para uma questão interessante entre espaço e obra, que é por
assim dizer, uma discussão recorrente no campo a arte contemporânea. Quadros e
esculturas dentro de um museu são usualmente encontrados e talvez por isso,
mais socialmente aceitos.
Performances que trazem para o espaço museológico áreas como
a dança e as artes cênicas, que convencionalmente são esperadas em palcos,
geram reações e comentários fervorosos e polêmicos, trazendo para a discussão
da arte contemporânea um ponto chave: o corpo.
Um exemplo claro de como essas performances geram impacto tanto na
sociedade como na própria organização interna da Bienal, foi o trabalho de José
Celso Martinez Corrêa, com direção coreográfica de Luciana Brittes, direção
artística de Fábio Delduque e direção musical de Raquel Coutinho. Baseado na
obra de Flávio de Carvalho “O bailado do Deus morto”, a performance ocorreu na
abertura da 29° Bienal com cerca de 40 performances entre eles os próprios
diretores. Com som alto, roupas e pinturas de barro e folhas mostrando
praticamente o corpo too dos performances, eles descerem pelos pavilhões da
Bienal em um verdadeiro ritual gerando discussões e divergências a respeito,
principalmente, da nudez.
É interessante como algo que se propõe atualizado com a
discussão artística do momento histórico, ao mesmo tempo não comporta muitos
dos trabalhos artísticos apresentados, por se tratar de um espaço institucional
e em constante negociação com o Estado. Há uma adaptação, um certo “entrar nos
moldes” que é antes necessário, para depois a ser a própria realização
artística.
Dessa forma a busca é atentar, a partir desses assuntos,
para a discussão maior do que é contemporâneo. Ao mesmo tempo em que há muitas
referencias e fontes preocupadas em refletir esse assunto, há também uma
situação explícita da sociedade de consumo em que vivemos, em que a arte não
escapa ao modelo. Há um mercado artístico que transforma- pela forma como se
organiza- toda a arte que é chamada de contemporânea, em um modelo mediado
pelas relações econômicas que permeiam esse campo. E essas adaptações limitam o
que é tido como possível de se realizar, colocando formas tradicionais e se
realizar no contemporâneo.
Texto produzido para o trabalho "O que é contemporâneo", na disciplina de Estudos Crítico-analíticos IV sob orientação de Fátima Wachowicz. Licenciatura em Dança - UFBA (04/03/2013)